Dificuldades de Aprendizagem - Disgrafia
Disgrafia
Etimologicamente, disgrafia
deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “grafia” (escrita), ou seja, é uma
perturbação de tipo funcional que afeta a qualidade da escrita do sujeito, no
que se refere ao seu traçado ou à grafia. A criança com disgrafia
apresenta uma escrita desviante em relação à norma/padrão, isto é, uma “caligrafia
deficiente, com letras pouco diferenciadas, mal elaboradas e mal
proporcionadas” é a chamada “letra feia”.
Obviamente que uma criança em processo de
aprendizagem da escrita apresenta, naturalmente, dificuldades no traçado das
letras. Assim, durante
este período, o professor deverá revelar especial atenção e fornecer as
orientações necessárias para que os alunos realizem adequadamente a escrita,
evitando, deste modo, na ausência de outras problemáticas associadas, a
permanência de traçados incorretos que, consequentemente, poderão evoluir para
um quadro de disgrafia.
Causas
O estudo das causas da disgrafia é complexo,
pois como vocês já devem imaginar, são muitos os fatores que podem levar a uma
escrita alterada. As causas da disgrafia se agrupam em três tipos básicos: maturativas,
carateriais e pedagógicas. As primeiras estão relacionadas com perturbações de
lateralidade e de eficiência psicomotora (motricidade, equilíbrio). Estas crianças
são desajeitadas do ponto de vista motor (geralmente possuem idade motora
inferior à idade cronológica) e apresentam uma escrita irregular ao nível da pressão,
velocidade e traçado, bem como perturbações de organização perceptivo-motora,
estruturação/orientação espacial e interiorização do esquema corporal. As causas
carateriais, por outro lado, estão associadas a fatores de personalidade, que
podem, consequentemente, determinar o aspeto do grafismo (estável/instável,
lento/rápido), e também a fatores psicoafetivos, pois o sujeito reflete
na escrita o seu estado e tensão emocionais. As últimas, as causas
pedagógicas, poderão estar relacionadas, por exemplo, com uma instrução/ensino rígido e
inflexível, com uma mudança inadequada de letra de imprensa para letra
manuscrita e/ou uma ênfase excessiva na qualidade ou rapidez da escrita.
Outros autores, apresentam-nos ainda cinco
grupos de causas promotoras da disgrafia:
–Distúrbios na
motricidade ampla e fina, relacionados com a falta de coordenação entre o que a
criança se propõe fazer (intenção) e o que realiza (perturbações no domínio do
corpo);
–Distúrbios na
coordenação visomotora, associada à dificuldade no acompanhamento (visual) do
movimento dos membros superiores e/ou inferiores;
–Deficiência na
organização temporoespacial (direita/esquerda, frente/atrás/lado e
antes/depois);
–Problemas na
lateralidade e direccionalidade (dominância manual);
–Erros pedagógicos,
relacionados com falhas no processo de ensino, estratégias inadequadamente
escolhidas pelos docentes ou mesmo desconhecimento deste problema.
Caraterização
Antes de tudo, é importante saber que a
apresentação de apenas um ou dois dos comportamentos que se seguem não é
suficiente para confirmar esta problemática; a criança deverá revelar o
conjunto (ou a quase
totalidade) das seguintes
condições:
•Letra
excessivamente grande (macrografia) ou pequena (micrografia);
•Forma das letras
irreconhecível (por vezes distorcem, inclinam ou simplificam tanto as letras
que a escrita é praticamente indecifrável);
•Traçado exagerado
e grosso (que vinca o papel) ou demasiado suave e imperceptível;
•Grafismo trémulo
ou com uma marcada irregularidade, originando variações nos tamanhos dos
grafemas;
•Escrita demasiado
rápida ou lenta;
•Espaçamento
irregular das letras ou das palavras, que podem aparecer desligadas,
sobrepostas ou ilegíveis ou, pelo contrário, demasiado juntas;
•Erros e borrões
que quase não deixam possibilidade para a leitura da escrita
(embora as crianças sejam capazes de ler o que
escrevem);
•Desorganização
geral na folha/texto;
•Utilização
incorreta do instrumento com que escrevem;
Intervenção
Para ajudar um aluno com disgrafia o educador
deve, primeiramente, estabelecer uma boa relação com a criança e fazê-la
perceber que a sua presença é importante para a apoiar quando mais precisa. É fundamental
saber/sentir quando e
qual a ajuda que deve providenciar a cada momento, não deixando de elogiar a
criança pelo seu esforço, mesmo que os resultados nem sempre estejam de acordo
com sua expectativa, não custa dizer um “parabéns” de vez em quando,
né galera? No entanto, deve
também ter a capacidade de perceber quando o aluno revela desmotivação e desinteresse
e, se necessário, alterar a intervenção, adequando procedimentos visando
estimular a criança, pois, na maior parte das ocasiões, a má prestação é
sobretudo nossa, consequência da utilização de estratégias/métodos
insuficientemente atrativos e interessantes. Por este motivo, deve evitar-se
aplicar métodos generalizados e inflexíveis.
Outro aspeto bastante importante é o reforço
positivo da caligrafia da criança. Lembre-se que ela se esforça bastante por escrever
corretamente e, mesmo que não observe grandes progressos, vá elogiando os (escassos) resultados. Afirmações como “Esse «p» ficou
mesmo perfeito!”; “Tu teve o cuidado de não ultrapassar a margem, muito bem!”; ou “Hoje a tua letra
está mesmo bonita! Tu tem te esforçado muito!”, poderão surtir efeitos
extraordinários! O processo de aprendizagem da escrita é lento e longo e a
criança é a primeira a achar a sua letra horrível. Então, por isso mesmo, evitem forçá-la
a modificar abruptamente a sua caligrafia.
Devem, também, contemplar-se os aspetos
psicomotores, que determinam a capacidade gráfica do indivíduo. A reeducação do
grafismo está relacionada com três fatores fundamentais: desenvolvimento
psicomotor, desenvolvimento do grafismo em si e especificidade do grafismo da
criança. Para o
desenvolvimento psicomotor, deverão treinar-se aspetos relacionados com a
postura, controle corporal, dissociação de movimentos, representação mental do
gesto necessário para o traço, percepção espaciotemporal, lateralização e
coordenação viso motora. Quanto aos aspetos relacionados com o grafismo, o educador
deve preocupar-se com o aperfeiçoamento das habilidades relacionadas com a
escrita, distinguindo atividades pictográficas (pintura, desenho, modelagem) e escriptográficas (utilização do
lápis e papel – melhorar os movimentos e posição gráfica). Deverá, também,
corrigir erros específicos do grafismo, como a forma/tamanho/inclinação das
letras, o aspeto do texto, a inclinação da folha e a manutenção das margens/linhas.
A isso, acrescenta-se ainda a necessidade de se
contemplarem técnicas de relaxamento global e segmentar, que podem ajudar a
criança a reduzir os índices de ansiedade, estresse, frustração e também baixa
autoestima. Como sabemos, estas crianças são,
na sua generalidade, alunos tímidos, sossegados (mas inquietos internamente), com motivação/interesse pela escola reduzidos e
com baixos níveis de autoestima e autoconceito. Não é tão difícil nos
esforçarmos um pouquinho para ajudá-las, certo? Próximo post vamos falar sobre disortografia, então
fiquem atentos, beijos de luz! ★
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