Dificuldades de Aprendizagem: Disortografia

A Disortografia

Etimologicamente, disortografia deriva dos conceitos dis” (desvio) + “orto” (correto) + “grafia” (escrita), ou seja, é uma dificuldade manifestada por um conjunto de erros da escrita que afetam a palavra, mas não o seu traçado ou grafia, pois uma criança disortográfica não é, necessariamente, disgráfica.

Perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos. As dificuldades centram-se na organização, estruturação e composição de textos escritos; a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a presença de múltiplos erros ortográficos e [por vezes] má qualidade gráfica.” (Pereira, 2009, p. 9).

Causas


Os fatores potencialmente justificativos das dificuldades disortográficas são:  
Problemas na automatização dos procedimentos da escrita, que se traduzem na produção deficiente de textos; 
Estratégias de ensino imaturas ou ineficazes, com a consequente ignorância das regras de composição escrita;
Desconhecimento ou dificuldade em recordar os processos e subprocessos implicados na escrita (carência nas capacidades metacognitivas de regulação e controlo desta atividade).

Por outro lado, as causas da disortografia estão relacionadas com aspetos perceptivos, intelectuais, linguísticos, afetivo-emocionais e pedagógicos.  As causas de tipo perceptivo estão associadas a deficiências na percepção, na memória visual e auditiva e/ou a nível espaciotemporal, o que traz consequências na correta orientação das letras e na discriminação de grafemas com traços semelhantes, por exemplo. Quanto às causas de tipo intelectual, estão associadas a um défice ou imaturidade intelectual; um baixo nível de inteligência geral pode levar a uma escrita incorreta porque a criança não domina as operações de caráter lógico-intelectual necessárias ao conhecimento e distinção dos diversos elementos sonoros.  Problemas de linguagem (pronúncia/articulação) e/ou deficiente conhecimento e utilização do vocabulário (código restrito) são apontados como causas de tipo linguístico. 

Relativamente às de tipo afetivo-emocional, apontam baixos níveis de motivação e atenção, que poderão fazer com que a criança cometa erros ortográficos (mesmo que conheça a ortografia das palavras). Por último, as causas de tipo pedagógico remetem para métodos de ensino desadequados, por exemplo, quando o professor se limite à utilização frequente do ditado, que não se ajusta às necessidades individuais dos alunos e não respeita os seus ritmos de aprendizagem. Assim, embora possam ser nomenclaturas diferentes, os conceitos se completam, sendo indispensável considerar os seus respetivos contributos para que possam encontrar-se de uma forma abrangente, todas as possíveis origens desta problemática.  


Caraterização


Uma criança com disortografia demonstra, geralmente, falta de vontade para escrever e os seus textos são reduzidos, com uma organização pobre e pontuação inadequada.  A sua escrita evidencia numerosos erros ortográficos de natureza muito diversa:

Erros de caráter linguístico-perceptivo
Omissões, adições e inversões de letras, de sílabas ou de palavras;
Troca de símbolos linguísticos que se parecem sonoramente (“faca”/“vaca”).
             
Erros de caráter viso espacial
Substitui letras que se diferenciam pela sua posição no espaço (“b”/“d”); 
Confunde-se com fonemas que apresentam dupla grafia (“ch”/“x”);        
Omite a letra “h”, por não ter correspondência fonêmica.

Erros de caráter viso analítico
Não faz sínteses e/ou associações entre fonemas e grafemas, trocando letras sem qualquer sentido.

Erros relativos ao conteúdo
Não separa sequências gráficas pertencentes a uma dada sucessão fónica, ou seja, une palavras (“ocarro” em vez de “o carro”), junta sílabas pertencentes a duas palavras (“no diaseguinte”) ou separa palavras incorretamente.

Erros referentes às regras de ortografia
Não coloca “m” antes de “b” ou “p”;
Ignora as regras de pontuação;
Esquece-se de iniciar as frases com letra maiúscula;
Desconhece a forma correta de separação das palavras na mudança de linha, a sua divisão silábica, a utilização do hífen.

De uma forma geral, a caraterística mais comum nas crianças com disortografia é, sem dúvida, a ocorrência de erros ortográficos, sejam estes de caráter linguístico-perceptivo, viso espacial, viso analítico, de conteúdo ou referentes às regras de ortografia. No entanto, quando intervimos junto destes alunos, devemos ter a noção de que outros aspetos estão envolvidos no ato da escrita e, consequentemente, importa trabalhá-los.  

Intervenção


Galera, lembrem que a intervenção junto de alunos com disortografia não deve obedecer a um único modelo em concreto, mas sim a uma variedade de técnicas que tenham em conta não apenas a correção dos erros ortográficos, mas também a percepção auditiva, visual e espaciotemporal, bem como a memória auditiva e visual. 
Os autores Torres & Fernández (2001) salientam duas áreas importantes na reeducação da disortografia: a intervenção sobre os fatores associados ao fracasso ortográfico e a correção dos erros ortográficos específicos. No que diz respeito à primeira, são importantes os aspetos relacionados com a percepção, discriminação e memória auditiva (exercícios de discriminação de ruídos, reconhecimento e memorização de ritmos, tons e melodias) ou visual (exercícios de reconhecimento de formas gráficas, identificação de erros, percepção figura-fundo); as características de organização e estruturação espacial (exercícios de distinção de noções espaciais básicas, como direita/esquerda, cima/baixo, frente/trás); a percepção linguístico-auditiva (exercícios de consciencialização do fonema isolado, sílaba, soletração, formação de famílias de palavras, análise de frases); e também exercícios que enriqueçam o léxico e vocabulário da criança. Quanto à intervenção específica sobre os erros ortográficos, atente-se particularmente nos de ortografia natural (exercícios de substituição de um fonema por outro, letras semelhantes, omissões/adições, inversões/rotações, uniões/separações); de ortografia visual (exercícios de fonemas com dupla grafia, diferenciação de sílabas, reforço da aprendizagem); e de omissão/adição do “h” e das regras de ortografia (letras maiúsculas/minúsculas, “m” antes de “b”/“p”, “r”/“rr”).

Por outro lado, é importante, também, que se diferenciem os erros de ortografia das falhas na compreensão e, consequentemente, da possibilidade de elaboração de respostas. No momento da avaliação, é importante dar-lhe mais tempo para responder às questões e/ou certificar-se de que os enunciados/questões foram compreendidos; privilegiar a expressão oral também poderá ser uma boa estratégia. Para finalizar, importa acrescentar que qualquer que seja o procedimento a adotar, é importante que o educador (seja ele o professor, o psicólogo, o pai, o tio ou o irmão) tenha em conta as reais habilidades e dificuldades da criança e seja capaz de planear um conjunto de atividades que vão ao encontro dessas (in)capacidades específicas. Lembrem então da seguinte frase: o trabalho a desenvolver passa, acima de tudo, por conhecer as características individuais de cada aluno e o seu modo de funcionamento, de forma a encontrar as respostas pedagógicas adequadas”. Bom, gurizada, espero que o conteúdo tenha ficado claro e bem explicado, no próximo post vamos falar sobre a última dificuldade de aprendizagem: a discalculia. Por hora, be happy, guys!


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