Dificuldades de Aprendizagem - Dislexia
Dislexia:
Dentro
do grande grupo das Necessidades Educativas Especiais (NEE), as Dificuldades de
Aprendizagem (DA) são a problemática com maior taxa de prevalência (48%). Segundo a Associação
Portuguesa de Pessoas com Dificuldades de Aprendizagem Específicas, o número de
alunos com estes distúrbios tem vindo a aumentar, registando-se atualmente uma
prevalência de 5% a 10% da população total de alunos.
Sendo
assim, eu não poderia deixar de abordar esse tema aqui. Perdoem tantas semanas
sem nenhum post, prometo que vou compensar nos próximos dias! Bom, galera, a
expressão “dificuldades de aprendizagem” agrupa todos os problemas de aprendizagem, quer sejam
intrínsecos ao indivíduo ou relacionados com fatores externos, como uma
metodologia de ensino inadequada, por exemplo. Porém, passamos a descrever apenas as que, por possuírem
definições exclusivas, causas próprias e características muito particulares,
são comummente consideradas “dificuldades de aprendizagem específicas”, ou seja, a Dislexia, a
Disgrafia, a Disortografia e a Discalculia. É de grande importância que quem convive, ensina e/ou trabalha diariamente
com crianças portadoras dessas dificuldades, esteja preparado para compreender
as suas características e responder às suas necessidades específicas, designadamente
promovendo a criação de contextos educativos e pedagógicos individualizados,
que estimulem o desenvolvimento pessoal e social, a aprendizagem e o sucesso
escolar e profissional.
Vou
explicar cada uma dessas dificuldades aqui, todavia, como diria Jack
Estripador, vamos por partes, a começar pela Dislexia:
A Definição etimológica
da palavra, deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “lexia” (leitura, reconhecimento das palavras).
“É caracterizada
por dificuldades na correção e/ou fluência na
leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas
dificuldades resultam tipicamente de um défice na componente fonológica da
linguagem que é frequentemente imprevisto em relação a outras capacidades
cognitivas e às condições educativas. Secundariamente
podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura
reduzida que podem impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos
gerais.” (Associação Internacional de Dislexia, 2003, cit. por Teles, 2009).
A dislexia tem origem
neurobiológica e afeta, portanto, a aprendizagem e utilização instrumental da
leitura, resultando de problemas ao nível da consciência fonológica,
independentemente do quociente de inteligência (QI) dos indivíduos. Portanto, entendam: a dislexia não está associada a um baixo nível
intelectual, muito pelo contrário, um disléxico pode revelar padrões acima da
média, para a sua faixa etária, em outras áreas que não a leitura.
Causas
⇩
Não
há acordo quanto à identificação de uma causa exclusiva para a dislexia. Alguns autores afirmam
mesmo que se trata de uma perturbação de causas múltiplas. Cada área defende
sua própria explicação: a
genética diz se tratar de um problema hereditário, baseando-se em estudos
que revelam que os disléxicos apresentam, pelo menos, um familiar próximo com
dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita. Enquanto outros investigadores desta mesma área, apontam
as mutações de alguns cromossomos como causa do problema. Já a neurobiologia
afirma que os disléxicos parecem ter dificuldade em aceder às áreas localizadas
na parte posterior do cérebro, isto é, às regiões responsáveis pela análise de
palavras e pela automatização da leitura, recorrendo mais à área de Broca (área frontal inferior
esquerda) e a outras zonas do
lado direito do cérebro que fornecem pistas visuais. Confuso né?
Na área da psicolinguística constata-se a “evidência de que os
indivíduos que apresentam um atraso na aquisição da linguagem experimentam dificuldades
na leitura com uma frequência seis vezes superior àqueles com desenvolvimento
normal”. Foi ainda comprovado
que as crianças que revelam altos índices de eficiência na linguagem oral em
idades precoces apresentam maior probabilidade de se tornarem bons leitores. Por último, quando
se compararam maus leitores com leitores normais verificou-se que os primeiros
apresentam piores desempenhos em tarefas que impliquem a produção, percepção,
compreensão e segmentação da linguagem e também memória linguística; no entanto, foi
também demonstrado que “o treino de habilidades de análise da linguagem tem um efeito
positivo no rendimento do autor”. Enfim, são muitas as teorias e enquanto a gente não
descobre qual explica melhor essa dificuldade, vamos falar de algo que temos
uma certeza maior: suas características.
Caraterização
⇩
Nos
testes de inteligência, uma criança disléxica apresenta desempenhos superiores
nas funções não verbais, comparativamente às funções verbais (valores mais baixos nas
subescalas de memória de dígitos, aritmética e códigos), isto é, um QI não verbal/de realização superior ao
QI verbal, deu pra entender? Ela demonstra,
ainda, insegurança e baixa autoestima, culpabilizando-se e sentindo-se, muitas
vezes, triste. Muitas destas
crianças recusam-se a realizar atividades ligadas à leitura (e, por vezes, à escrita
também) com medo de
revelarem os erros que cometem. Estes alunos podem
apresentar algumas ou várias das seguintes caraterísticas:
Na
expressão oral
• Apresentam
dificuldade em selecionar as palavras adequadas para comunicar (tanto a nível
oral, como escrito);
• Elaboram frases
curtas e simples e têm dificuldade na articulação de ideias;
• Revelam pobreza de
vocabulário;
Na
leitura/escrita
• Fazem uma soletração
defeituosa (leem palavra por palavra, sílaba por sílaba, ou reconhecem letras
isoladamente sem conseguir ler);
• Na leitura
silenciosa, murmuram ou movimentam os lábios;
• Perdem a linha de
leitura;
• Apresentam problemas de
compreensão semântica (na interpretação de textos);
• Revelam dificuldades
acentuadas ao nível da consciência fonológica, isto é, na tomada de consciência
de que as palavras faladas e escritas são constituídas por fonemas;
• Confundem/invertem/substituem
letras, sílabas ou palavras;
• Na escrita
espontânea (composições/redações) mostram severas complicações (dificuldades na
composição e organização de ideias).
Outras
competências
• Apresentam
dificuldades em guardar e recuperar nomes, palavras, objetos e/ou sequências ou
fatos passados: letras do alfabeto, dias da semana, meses do ano, datas,
horários;
• Não conseguem orientar-se
no espaço, sendo incapazes de distinguir, por exemplo, a direita da esquerda (o
que dificulta a orientação com mapas, globos);
• Têm dificuldades nas
disciplinas de História (em captar as sequências temporais), de Geografia (no
estabelecimento de coordenadas) e Geometria (nas relações espaciais);
• Têm dificuldade na
aprendizagem de uma segunda língua;
• Apresentam falta de
destreza manual e, por vezes, caligrafia ilegível;
• Poderão ter dificuldades
com a matemática, sobretudo na assimilação de símbolos e em decorar a
tabuada.
Intervenção
⇩
Obviamente,
não existe um tratamento padrão adequado a todas as crianças com dislexia,
então o foco da intervenção deve estar na ajuda individual a cada aluno. Nunca é tarde demais para
ensinar disléxicos a ler e a processar informações com mais eficiência. É importante
ressaltar, também, que estas crianças revelam um ritmo de trabalho mais lento
quando comparado com os restantes colegas e, muitas vezes, incongruente, por
isso não é de espantar que num dia consiga ler três frases, mas no dia seguinte
apresente graves dificuldades na leitura de uma palavra. Acima de tudo é
preciso ter paciência, dar tempo ao tempo, motivá-las e reforça-las sempre,
mesmo que os resultados sejam mínimos, não podemos desistir.
Não
ignorem o fato de que para disléxicos a leitura exige um esforço enorme e se a
criança não faz melhor é porque não consegue e não porque não quer ou porque é
preguiçosa ou burra, NUNCA JAMAIS diminuam sua capacidade dizendo algo assim. Quando errar, deve ser
corrigida imediatamente e deve ser explicado o motivo do erro e como evitar
repeti-lo. E por favor, evitem
obrigá-la a ler em voz alta em frente à outras pessoas com as quais não se
sintam confortáveis, isso podem trazer repercussões drásticas para o seu futuro
desempenho.
Na
sala de aula, deve estar sentada numa mesa próxima do professor (e não no fundo da sala), para que este possa
auxiliá-la sempre que haja necessidade e para que ela se sinta mais confortável
quando quiser esclarecer alguma dúvida. Devem, ainda, reduzir-se possíveis focos de distração,
como algum colega tagarela ou algum outro barulho que a possa distrair; estas crianças já
estão pouco motivadas para se concentrar, então quanto menos distrações, melhor. No momento da avaliação,
devem evitem questões longas e complicadas, pois a criança poderá demorar mais
tempo a tentar compreender a pergunta do que a dar a resposta. Pode, por exemplo,
ler as perguntas ou pedir auxílio ao professor de ensino especial e/ou a um colega de turma,
para que a criança compreenda o que é solicitado.
Um
outro aspeto a ter em conta na intervenção com estas crianças é o recurso a uma
terapia multissensorial, isto é, aprender pelo uso de todos os sentidos. Os métodos
multissensoriais são métodos que combinam a visão, a audição e o tato para
ajudar a criança a ler e a soletrar corretamente as palavras. Assim, a criança
começa por observar o grafema escrito, depois “escreve-o” no ar com o dedo,
escutando e articulando a sua pronúncia; posteriormente, deve cortá-lo, moldá-lo em plasticina/fimo/barro
e, de olhos fechados reconhecê-lo pelo tato. “A realização destas atividades favorece por isso a criação de
imagens visuais, auditivas, sinestésicas, tácteis e articulatórias que, de modo
conjunto, incidem na globalização ou unidade do processo de leitura a escrita”, top né gente? Sugere-se, ainda, o
treino psicomotor (esquema corporal, lateralidade, orientação espaciotemporal), perceptivo-motor (capacidades visomotoras e
coordenação manual) e também psicolinguístico (descodificação auditiva, visual,
expressão verbal, entre outros).
Por
último, é importante referir a necessidade de articulação entre todas as
pessoas que intervêm junto da criança. “Os pais devem estar dispostos a partilhar informações com os
professores, assim como devem tentar saber como podem ajudar e apoiar o
professor de todas as maneiras possíveis” (e vice-versa). É extremamente importante que pais, professores,
educadores estejam em constante comunicação; só assim se garantirá o rigor e qualidade do trabalho
efetuado e se evita, por exemplo, que as crianças estejam constantemente a
realizar os mesmos exercícios e a trabalhar as mesmas letras, pois para estas
crianças “há uma grande necessidade
de atividades diversificadas que envolvam tanto a expressão corporal como o
sabor, o cheiro, a cor e a expressão plástica. Aprender não é falar sobre, é fazer!” e “para aprender bem, é
necessário estar envolvido”.
Bom, gurizada, sobre dislexia vamos parando por aqui, espero que
o conteúdo tenha sido útil pra vocês e no próximo post vamos falar mais um
pouco sobre as demais dificuldades de aprendizagem. Beijos de luz, guys!
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